Comiseração
O sentimento de comiseração, pena, lamento ou pesar pelo outro pode ser válido num primeiro momento. Sim, ele nos mobiliza a ocupar nossa mente com quem precisa de ajuda. O tipo de ajuda que podemos dar pode ser a mais fácil para nós ou a ajuda necessária. Podemos dar o que nos sobra ou o que nos convém, e deixar de dar o que o outro realmente precisa. Muitas vezes encaixamos a nossa própria carência na necessidade do outro, que se torna um companheiro para nós. A pessoa ganha a partir da nossa falta, mas não o que precisa para seguir adiante, para se tornar independente e fazer as escolhas próprias a partir daí.
O tipo de ajuda que damos muitas vezes fala mais sobre quem somos do que sobre o tipo de necessidade de quem precisa. Há no mundo várias formas de demonstrar amor, algumas delas podem ser danosas e tornar, por exemplo, um filho inábil para lidar com a vida. Não há consciência sobre o processo, nem por parte de quem dá esse amor, nem por parte de quem recebe. Uma forma de dependência às vezes é a única forma de duas pessoas se relacionarem.
Uma mãe não tem consciência que o seu olhar em relação ao filho reverbera em como essa criança se vê. Se a mãe acredita que o filho não é capaz, provavelmente assim ele se enxergará; como um incapaz. Quando sentimos pena de alguém, sem perceber, transmitimos a mensagem “você é digno de pena”. Quando alimentamos uma relação à base da comiseração, fortalecemos o nosso próprio ego e atrofiamos o do outro, pouco a pouco. Isso porque somos seres sociais e nos percebemos no mundo a partir de como somos percebidos, nos valorizamos ou desvalorizamos conforme o valor que a sociedade nos dá.
Se nos sentimos incapazes de atingir nossas metas, existe por trás disso uma crença. Nossa autoestima é na verdade uma crença, uma construção, uma cicatriz cognitiva, uma sequela do olhar que o mundo teve ou tem sobre nós. Felizmente esse caminho é flexível, e graças à construção de novas sinapses nervosas, novos conceitos sobre nós mesmos podem ser construídos na nossa mente, em qualquer fase da vida. Isso se dá a partir de novos inputs, de novas informações vindas de fora.
Se durante toda uma vida alguém é tratado como incapaz e, por qualquer circunstância isso mudar, também mudará a pessoa. Se em vez de pena ou ajuda-esmola, recebermos sistematicamente estímulos como “Confio no seu potencial, você é capaz!”, isso muda tudo. Dessa forma podem nascer grandes estrelas do esporte, nas carreiras e talentos de uma maneira geral. A autoestima é a crença mais determinante do destino pessoal, ela pode afundar ou fazer emergir potenciais inatos.