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A prisão da repetição

Você, que teve o privilégio de escolher as vias da Psicanálise para decifrar os meandros da mente humana, poderia tirar uns minutos de reflexão, usando sua própria vida como exemplo, para entender o funcionamento neurótico?

A pulsão de morte freudiana, à qual Wilhelm Reich tanto se opôs, poderia ser traduzida pelo apego aos padrões de repetição doentios?

Pois então… A elaboração psíquica pelo meio tortuoso da repetição não seria em si “a própria morte”?

Quando Reich rechaça a pulsão de morte, ele despreza a existência dos mortificadores padrões neuróticos de repetição? 

Quando Freud, de alguma forma, afirma que estamos fadados à neurose, ele estaria afirmando que estamos destinados a repetir sem consciência, ciclos de sofrimento estabelecidos no passado, certo?

Seria essa repetição um masoquismo? Uma autopunição motivada por culpas inconscientes? 

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Sendo assim, a cura neurótica poderia se revelar no cultivo do automerecimento mais profundo. Como?

Em que oportunidade deixamos, pela primeira vez, de pulsar pela vida? 

Em que etapa do caminho desviamos do incomparável conforto da nossa naturalidade? 

Sem entender a origem e a razão da regra que nos priva do “ser”, jamais entenderemos a nós mesmos. Isso porque nos tornamos a própria regra.

O “não ser” pulsa na morte. O “SER” pulsa na vida. A regra portanto nos introduz na pulsão de morte e nos tira a vida.

A forma endêmica ou generalizada desse desvio de percurso pode ser chamada, usando as próprias palavras de Freud, de “mal estar na civilização”. Abrimos mão do nosso funcionamento biológico ideal, do instinto e naturalidade; em prol da convivência e aceitação social. Mais adiante, o discernimento e a lucidez são atropelados pela internalização da regra. Assim, o superego emburrece o ego, roubando-lhe consciência sobre suas ações, que se tornam automatizadas e geram intermináveis ciclos de sofrimento. 

A foice e o chicote andam juntos. Pulsão de morte e instância castradora são aliadas. Elas nos subtraem o fio da meada, embotam o projeto de “ser” original; e transformam o incômodo em algo familiar, aceitável e até perseguido.

Nos tornamos assim, neuróticos, repetidores tanatopulsantes.

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